ANTONIO LUCIO VIVALDI
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BIOGRAFIA
2ª parte
(a 1ª parte encontra-se em Antonio Vivaldi 1
e Obras em Antonio Vivaldi 3)
 
 

O AMANTE

Muito pouco é conhecido sobre a vida pessoal de Vivaldi. Sabe-se sobre a carreira profissional dele pelos registros dos lugares em que a sua música foi executada. Sabe-se o que as pessoas pensaram de Vivaldi pelas cartas que eles escreveram louvando ou  denunciando. O que se sabe da própria boca de Vivaldi (ou escrito por ele) é mínimo.
 
Vivaldi era padre e não se casou, não havendo plena certeza de ligações românticas. O caso mais acentuado parece ter sido o da soprano  das óperas dele, Anna Giro, ou Anna Giraud, que era  sempre a protagonista. Ela tinha 16 ou 17 anos e Vivaldi já tinha 48 quando  se encontraram. Ela e sua irmã Paolina viveram na casa de Vivaldi e se tornaram as acompanhantes  dele por toda a parte. Vivaldi disse que as irmãs proviam tudo o que era necessário aos seus cuidados com a saúde, cuja asma dificultava severamente os seus deveres sacerdotais (sem, aparentemente, afetar as habilidades dele para viajar, executar, ensinar, compor prolificamente, ou administrar uma casa de ópera.). Não é nenhuma surpresa, então,  que os historiadores concluam que havia amor.  
 
Os primeiros ataques contra o estilo de vida de Vivaldi aconteceram em 1737, quando Guido Bentivoglio recusou permissão para Vivaldi organizar uma ópera na cidade de Ferrara, alegando que ele era inadequado para tal alta honra porque  não rezava Missa  (o que era verdade) e porque  estava tendo um "affair" com Anna (boato que circulava). Vivaldi protestou em uma longa carta um tanto desconexa, que é a única evidência forte que se tem do envolvimento de Vivaldi com a cantora,  que se casou sete após a morte do compositor. É mais do que provável que os detalhes exatos dessa aliança deles nunca serão conhecidos.   
 
 
O COMPOSITOR

Vivaldi alcançou fama em Veneza com "L'Estro Armonico" (A Inspiração Harmoniosa)  - uma coleção de doze concertos para violino, que estabeleceu o estilo de Vivaldi: composições com três movimentos - rápido-lento-rápido - e deslumbrantes solos de instrumento.

Esses concertos foram publicados em Amsterdã por Estienne Roger, em 1711. Vivaldi e Albinoni foram os primeiros compositores italianos a ter seus trabalhos publicados na Europa do norte, o que teve o efeito colateral benéfico de expor a música italiana para outra região, mas, em troca, os compositores italianos passaram a compor para agradar os gostos do norte da Europa. Vivaldi estava na vanguarda desta influência numa época em que se exigia que os compositores fossem prolíficos, compondo cerca de 500 concertos, como também 40 cantatas, 22 óperas e mais de 60 trabalhos sacros. Havia muito mais, mas não sobreviveram ou até agora não foram descobertos.

Vivaldi era um raros compositores italianos se interessando por intrumentos de madeira, tanto que compôs vários concertos para fagote, oboé, flauta, clarinete, etc. Instrumentos de sopro desse tipo já tinham se tornado parte integrante de orquestras européias do norte, mas a tendência não tinha chegado à Itália, onde o violino era o rei.

Vivaldi foi obrigado a escrever música religiosa para o "Ospedale", tarefa a que ele não se furtou, como tinha feito em relação à celebração de Missas. Os Oratórios, nessa época, se assemelhavam a óperas, apenas abordando um tema religioso. O único Oratório que restou, "Juditha Triumphans",  é, parcialmente uma propaganda para Veneza, na ocasião em guerra com os Turcos. É uma composição muito marcial, com dramáticas cenas de batalha.

Outro interesse de Vivaldi era a ópera. Em 1637 Veneza abriu seu primeiro teatro para o público, o "San Cassiano". A popularidade da ópera na época fez com se tornasse uma das formas mais prósperas de entretenimento musical, onde um compositor poderia ganhar ao redor de 200 ducados por ópera, no lugar dos 60 ducados que Vivaldi percebia em "Ospedale". A popularidade da ópera não era somente por causa da música, mas, sim, porque ingressos eram baratos, o que habilitou o acesso a pessoas mais modestas, que a assistia junto com a nobreza, mistura essa rara na sociedade de Veneza.

Entre os sucessos e ataques, Vivaldi se consolidou como compositor e empresário, levando sua companhia teatral a apresentaçõoes em inúmeras cidades. Uma dessas viagens, no entanto, foi frustrada pelo Cardeal Tommazo Ruffo, que proibiu a ida de Vivaldi a Ferrara, em 1737, onde iria fixar a maior parte de sua atividade empresarial. O cardeal considerava Vivaldi uma pessoa indigna, "um padre que não reza Missa e que mantém uma amizade suspeita com uma cantora". A empreitada consumiu boa parte dos bens do Padre Ruivo, e sua proibição, como ele mesmo definiu, representou a "ruína total".
 
Vivaldi, quase falido, e mal visto em sua cidade, resolve partir para o norte da Europa, em 1740.  Alguns historiadores, sem citar fonte confiável, mencionam que Vivaldi teria, na verdade, sido expulso pelo governo da República de Veneza. De qualquer modo, a fuga de Vivaldi foi interrompida em Viena. Todos os indícios mostram que a capital austríaca era apenas um ponto de passagem. Ele se hospeda, ao lado da inseparável Annina, na casa de um desconhecido, de nome Satler. Passa algum tempo lá e, de maneira inesperada, morre no dia 28 de julho de 1741.
 
Seu funeral foi a exata antítese dos sucessos fulgurantes que obteve, tanto como diretor da "Ospedale" quanto como empresário de ópera: simples, pobre, sem rituais nem protocolos, na mais completa obscuridade. A contradição final para uma biografia marcada por elas.
 

OCASO

  • Antonio Vivaldi morreu em 1741, em Viena. Como havia dispendido sua fortuna durante a vida, ele acabou sendo enterrado como pobre, ironicamente como Mozart. Tendo sido popular na Europa durante toda a sua vida, Vivaldi caiu nos seus últimos dez anos. Sua música foi esquecida, enquando o mundo musical avançava para o período clássico. Seu nome foi raramente mencionado por cerca de duzentos anos.
     
    A primeira descoberta significativa foi em Dresden. Vivaldi havia composto uma grande quantidade de música especialmente para a orquestra de Dresden, que se tornou fora de moda na década de 1860 e foi colocada num depósito apanhando poeira por um século.
     
    O primeiro historiador a levar Vivaldi seriamente foi Arnold Schering no princípio do século XX. Considerando que o ressurgimento de Vivaldi começou na Alemanha com a descoberta em Dresden, outros historiadores se interessaram, tais como Alfred Einstein, Karl Straube, Ludwig Landshoff e Wolfgang Fortner. A década de 1920 viu renascer um interesse em "música antiga", o que resultou na divulgação do trabalho de Vivaldi. Pode-se julgar que esse interesse crescente em Vivaldi conduziria os estudiosos a Veneza à procura do seu passado, mas o que aconteceu foi totalmente oposto. Vivaldi veio a eles.
     
    Em 1926, um monastério do Piemonte, por necessidade financeira, estava querendo vender seus arquivos - uma enorme coleção de música de 97 volumes,  que eles não não sabiam como lidar. Chamaram um musicólogo italiano, Alberto Gentili para esmiuçar o que estava no esconderijo e fazer uma seleção. Gentili percorreu cerca de 14 volumes de música de Vivaldi, a maior parte desconhecida, incluindo cerca de cem concertos, doze óperas, 29 cantatas, e um oratório completo. Essa música tinha ficado intocada por aproximadamente 200 anos, e é, talvez, uma das maiores descobertas da história da música. Vendo que a coleção não era uma obra completa, os estudiosos sairam à procura da parte restante, que foi descoberta nas coleções particulares de dois irmãos, cuja família tinha passado a coleção de geração para geração durante os últimos 200 anos, aparentemente sem noção do seu valor. Essas coleções foram compradas pela Biblioteca Nacional de Turim, onde estão até hoje.

    A redescoberta e o lugar de Vivaldi na história da música foram consolidados com a "Semana de Vivaldi", celebração em Siena, em 1939. Vivaldi, então, se esparramou pelo mundo afora logo após a Segunda Guerra Mundial com a instituição de "La Scuola Veneziana", "Os Virtuoses de Roma" e "Os Músicos", três das muitas orquestras que se concentraram na gravação e na apresentação de Vivaldi. Na década de 1960, Vivaldi recuperou sua fama no mundo inteiro, principalmente por causa de "As Quatro Estações", "Gloria" e alguns outros concertos. O que tinha permanecido escondido por quase 200 anos foi trazido de volta em menos de quarenta. 

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    Veneza, Ponte dos Suspiros
     
     
     
     
     
     
     
     
    Fundo Musical:
    Piccolo Concerto
     
    Produção e Formatação:
    Mario Capelluto e Ida Aranha